sexta-feira, 15 de maio de 2009

Dos tremores do mytho atlântico

O escritor Carlos Vaz justifica, no Textualino, a sua resistência ao novo Acordo Ortográfico:

«O leitor terá em mim o "dêem" e "crêem" com o telhado necessário à casa do "e"; o óptimo e a facção... como palavras carregadas de consoantes belas que suspendem a língua atrás da boca; os nomes dos monumentos importantes, os edifícios, os pontos cardinais, as estações do ano, com a maiúscula que demonstra o gigante necessário à sua construção.»



Vaz é um dos milhares de subscritores de uma petição que será debatida pelos deputados portugueses na próxima semana (ver jornal Público).

Mais uma vez, o Ler Digital deixa aqui um subsídio.

Em 1886, Antero de Quental grafava assim os seus sonetos:

«O espaço é mudo: a immensidade austera
De balde noite e dia incendeia...
Em nenhum astro, em nenhum sol se alteia
A rosa ideal da eterna primavera!»



Nem os astros nem as estações do ano eram necessariamente construídos por gigantes maiúsculos, naquela época. A imensidade da Primavera só posteriormente seria consagrada.

Mas em 1934, já o mito era mito, Fernando Pessoa ainda deixava (deliberadamente) na sua Mensagem que, afinal:

«O mytho é o nada que é tudo.»



Quental e Pessoa foram atualizados pelos milhões entretanto dados à luz. Que os pronunciavam de forma diferente; que viam nos textos reminiscências latinistas excessivas; que, no fundo, apenas os queriam ler e transcrever de forma mais compreensível.

Apesar dos pactos feitos com os seus leitores, acreditarão os escritores Carlos Vaz ou Vasco Graça Moura que o presente e o futuro ficarão amarrados ao que os autores consideram a ortografia óptima?

Ou, no fundo, estaremos apenas perante uma fação pré-atlântica?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

BOOX da Onyx International

A Onyx International apresenta a sua nova promessa: o BOOX.

O aparelho deverá dispor de um ecrã tátil assente na tecnologia E Ink Vizplex. Uma caneta permitirá sublinhar o texto, fazer anotações e navegar pelos menus.

Com 120 MB de RAM e um processador a 532MHz, o BOOX aceitará cartões de memória SD de 512 MB ou superiores.

Será possível localizar palavras dentro do texto ou traduzi-las com o auxílio de um dicionário.

Os deficientes visuais poderão ainda contar com a funcionalidade de leitura áudio automática (“texto-para-voz”).

De entre os formatos suportados contam-se os PDF, TXT, HTML, CHM, RTF, Mobipocket (sem GDA), PDB, JPG, PNG, BMP, TIFF.

A empresa dá a entender que se esforçará para suportar o formato EPUB.

A compatibilidade com o formato mp3 permitirá igualmente ouvir música no dispositivo.

Como um telemóvel, o BOOX disporá de conetividade Wi-Fi e GPRS/3G. Será, portanto, teoricamente possível navegar na Internet a partir do dispositivo e descarregar diretamente livros eletrónicos.

A Onyx não vende ainda para o consumidor final. Procura parceiros que comprem, pelo menos, 3.000 unidades para revenda. Tudo leva a crer que a empresa ainda tenha apenas disponíveis protótipos em pré-produção.

Junho de 2009 é a data prevista para o lançamento e 300 euros o preço estimado.

Veja o vídeo no Youtube.

Ricardo F. Diogo:

O ecrã tátil, a possibilidade de sublinhar e fazer anotações no texto, aliados à funcionalidade de pesquisa e dicionário levam este dispositivo ao encontro do que a maioria de fãs de livros digitais sempre desejou.

Creio que o aparelho deverá suportar o formato EPUB se não quiser merecer censuras dos utilizadores.

Na luta de formatos, o facto de apenas suportar ficheiros Mobipoket não protegidos por sistemas de gestão de direitos de autor dever-se-á, talvez, a não ter chegado a acordo com a proprietária deste formato, a Amazon, que dispõe do seu próprio leitor de ebooks, o Kindle.

Dificilmente os livros em PDF serão legíveis no aparelho. A não ser que sejam previamente formatados pelo utilizador para o tamanho do ecrã ou o dispositivo disponha de uma aplicação de reformatação. Por outro lado, o PDF tornar-se-á progressivamente redundante, à medida que o EPUB se for generelizando.

A funcionalidade de conversão para voz levantará necessariamente objeções dos editores e autores, como já anteriormente sucedeu com o Kindle da Amazon. Os editores argumentam que a leitura em voz automática é uma violação dos direitos de autor.

Considero o design atrativo, embora faça lembrar aparelhos já existentes no mercado.

O BOOX parece-me um leitor com extraordinárias potencialidades.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

txtr da Wizpac

A Wizpac, uma jovem empresa alemã com sede em Berlim, acaba de apresentar o protótipo do seu novo dispositivo de leitura de livros eletrónicos: o txtr. (Lê-se “técster.)

A comercialização está prevista para setembro de 2009.

A empresa criou já uma plataforma na Internet, que permite à comunidade de utilizadores enviarem livros e outros ficheiros de texto para aí serem armazenados e partilhados (em http://txtr.com).

Através de uma ligação 3G/GPRS, o utilizador poderá sincronizar a pasta de que dispõe nesse espaço virtual, com o aparelho que tem nas suas mãos. Pelo menos na Alemanha, isto será possível porque o txtr integrará um cartão SIM, tal como um telemóvel.

Fora esta particularidade, a meta da Wizpac é vender um dispositivo simples, dedicado apenas à leitura e à viragem de páginas. Criar uma espécie de PDA não está nos horizontes. A tecnologia E-ink Vizplex do aparelho não o permitiria.

O aparelho lerá ficheiros em formato ePub, o preferido da empresa. Mas também irá aceitar HTML, PDF e TXT. Quanto a RTF e formatos do Office da Microsoft, também estão previstos, embora ainda não haja certezas.

Já no que toca ao formato Mobipocket, tudo depende da autorização da sua proprietária, a gigante norte-americana Amazon, que comercializa também o seu próprio dispositivo – o Kindle. A jovem Wizpac diz estar a negociar.

O txtr não terá um ecrã tátil, pelo que não será possível sublinhar palavras. A empresa alega que essa funcionalidade esgotaria muito rapidamente a bateria.

A única área sensível ao toque será a faixa lateral do aparelho a partir da qual será possível virar as páginas. Se o txtr for colocado na horizontal, o texto reajusta-se automaticamente.

A Wizpac também não promete suportar a localização de palavras no próprio livro. Contudo, está a fazer experiências e não põe de parte a ideia de, futuramente, o aparelho poder ser ligado a um teclado através de Bluetooth. Esta arrancará para já apenas para o áudio.

As conectividades WiFi e USB permitirão ao utilizador migrar os seus livros para cartões de memória e lê-los no aparelho, ou exportá-los diretamente.

Quanto a memórias: 1GB SDRAM, com cartão MicroSD de 8GB incluído.

O sistema será baseado em Linux e a empresa libertará um SDK / API aquando do lançamento. Ou seja: qualquer programador poderá desenvolver as suas próprias aplicações para o aparelho. A Wizpac considera isto «posição estratégica» e conta com a criatividade da comunidade de utilizadores para melhorar o dispositivo.

A empresa está a conversar com os editores para poder vender livros a partir do seu sítio.
Contudo, a Alemanha possui uma lei que fixa um preço único para cada livro. As edições digitais deverão ter o mesmo preço das em papel.

O txtr deverá custar cerca de 300 euros.

Veja os vídeos no Youtube: Vídeo 1 (Parte 1) e Video 1 (Parte 2) , em Inglês; e Vídeo 2, em Alemão.


Ricardo F. Diogo:

O aparelho tem um
design que me parece leve e atrativo. A possibilidade de utilizar o aparelho para ler documentos armazenados num espaço virtual é interessante, embora não seja nova.

A Wizpac terá de estar atenta aos direitos de autor. A tendência será para os cibernautas carregarem na plataforma na Internet da Wizpac documentos ilegais para que possam ser compartilhados com todos utilizadores. Poderá ser uma pedra no sapato da empresa.

A abertuda a formatos não proprietários é ótima. Infelizmente, gostaria que o aparelho tivesse um ecrã tátil para que se pudesse sublinhar linhas e palavras. A opção de pesquisa de texto, contudo, é uma mais-valia.

2009: novas promessas

O início de 2009 está a ser generoso quanto a promessas de novos dispositivos.

A marcar o primeiro trimestre de 2009, dois eventos serviram de rampa de lançamento para novas empresas e protótipos: a CeBIT 2009 (Hannover, Alemanha, 3 a 8 de março), uma das maiores feiras de tecnologia do mundo; e a Feira do Livro de Leipzig (Leipzig, Alemanha, 12 e 15 de março).

A oferta de dispositivos está a crescer e a concorrência poderá trazer surpresas.

As empresas apontam datas de lançamento mas não se comprometem quanto a preços. Todas pretendem ser competitivas neste mercado, que é atualmente liderado pelo Kindle da Amazon e pelo Sony PRS 505 da Sony.

Para já, os aparelhos anunciados assentam quase todos na mesma tecnologia E-Ink Vizplex. Alguns têm ecrãs táteis, outros não.

Os novos dispositivos parecem seguir os passos do Kindle. Apostam na navegabilidade direta na Internet para permitir comprar os livros em linha.

O Ler Digital irá, nos próximos meses, apresentar algumas das novas engenhocas.

Ler Digital com Acordo Ortográfico

A partir de hoje, o Ler Digital adota o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990.

Apesar de ainda não vigorar em Portugal, é tempo de me adaptar.

Caso por cá encontre erros, não hesite em corrigir-me!

Ricardo F. Diogo, 1 de maio de 2009