A CPLP é das instituições nas quais coloco as maiores expectativas e da qual menos resultados concretos tenho visto. O que talvez se justifique com as realidades socioeconómicas dos seus membros, nomeadamente os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e Timor-Leste.
Estes países têm, compreensivelmente, questões mais graves com as quais se preocuparem: convulsões sociais internas (em alguns casos, com conflitos armados) e elevadíssimos índices de pobreza.
Tudo isto se revela na pouca importância que os próprios Estados dão à CPLP. A Conferência de Chefes de Estado e de Governo, o seu órgão máximo, por exemplo, apenas reúne de dois em dois anos. (Nos próximos dois, presidirá à Organização o Presidente da República de Portugal, Aníbal Cavaco Silva.)
Já o seu Conselho de Ministros reúne anualmente.
Tudo isto é muito pouco…
Portugal vive mais preocupado com a União Europeia; o Brasil com o Mercosul; os PALOP com a União Africana e a ONU; e Timor-Leste com a Austrália.
Portugal e Brasil têm uma tendência para o desentendimento no que toca a questões da Língua. Cada país se apropria dela (um, porque é o seu fundador, outro porque é o que detém mais cidadãos que a falam).
Alguns PALOP vêm no Português mais uma marca histórica do que uma realidade quotidiana. Não só a conversa diária é feita no dialecto local como, em alguns casos, a penetração de outras línguas (caso do Francês ou do Inglês) se vai tornando uma realidade.
A estratégia do Brasil assenta em divulgar e promover fortemente o Português na Internet (muitos sítios públicos e privados, com muitos conteúdos, tais como o Portal Domínio Público).
Portugal, por seu turno, não sabe o que fazer do Português. Vai enviando alguns professores para os PALOP e mais uns quantos para outros países. Tem um Instituto Camões que faz corar de vergonha qualquer português que o compare com o congénere espanhol, o Instituto Cervantes. A isto se resume a sua estratégia.
Com um Camões em rota (previsível) de reestruturação e o anúncio do governo de Portugal de um plano estratégico para o ensino do Português no estrangeiro (ver jornal PUBLICO) talvez venhamos a assistir a uma possível (e desejável) colagem de modelos como o do Cervantes que, a par de uma intensa actividade de divulgação cultural, espalha um autêntico exército de professores de Castelhano por todo o Mundo, criando centros internacionais para leccionação e reconhecimento de cursos.
O primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, sugere que uma das formas de dar maior expansão ao Português é a criação de uma "biblioteca comum online" (ver jornal PUBLICO).
Não podia estar mais de acordo.
Considero, contudo, que a criação de uma biblioteca poderosa que congregue esforços de todos os países da CPLP envolverá discussões para as quais o governo Português talvez não esteja preparado. Nomeadamente… financiamento. E… sabedoria.
Por exemplo, a Biblioteca Digital Nacional de Portugal encontra-se praticamente estagnada por falta de financiamento (?). As digitalizações de obras foram congeladas (?) e as existentes deixam muito a desejar. Possuem uma resolução insuficiente para se fazer um simples OCR e as imagens de alta resolução não são fornecidas aos utilizadores, que têm de pagar somas avultadas se as pretenderem. É deste tipo de biblioteca comum que falamos?
Ou falaremos numa biblioteca do tipo Portal Domínio Público brasileiro? Com ficheiros em PDF que dificultam imenso a sua conversão para outros formatos e dispositivos de leitura… Mas que congrega milhares de clássicos em domínio público, produzidas por voluntários.
Ou referimo-nos a algo do género da Biblioteca Digital Nacional do Brasil, na qual são necessários programas especiais para se poder aceder às imagens dos livros?
Ou a um modelo semelhante à Biblioteca Virtual do Estudante da Língua Portuguesa, virada para o ensino e com preciosos materiais didácticos?
E como conciliar uma biblioteca digital lusófona com a Biblioteca Digital Mundial (da qual o Brasil é o único parceiro lusófono) e a Biblioteca Europeia (futura Europeana) sem que haja duplicação de esforços na digitalização das mesmas obras?
Que especificações serão usadas nas digitalizações? as Minerva?
As Universidades e bibliotecas locais irão aderir? digitalizarão os seus acervos?
Questões às quais não me proponho responder mas às quais decerto irei tendo a oportunidade de deixar modestas sugestões.
1 comentário:
Gostei muito deste post. Abordaste temas muito interessantes. :D
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