terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Camões com Biblioteca Digital renovada


8 de Janeiro de 2009, às 16h00 de Lisboa. Depois de amanhã. É a data marcada para a abertura em linha da Biblioteca Digital Camões (em construção).

Cabe ao Instituto Camões, pôr tudo a funcionar. O Instituto Camões, I. P., é um Instituto Público, sujeito à superintendência e tutela do Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, e tem por missão promover o ensino do Português no estrangeiro.

Está prometida a disponibilização de 1.200 documentos em Língua Portuguesa, de entre os quais, livros de autores falecidos há mais de 70 anos (no domínio público em Portugal), pautas de música, ensaios, poemas e estudos científicos.
A Biblioteca Digital Camões poderá tornar-se o embrião para uma biblioteca que efectivamente leve a Língua Portuguesa a todas as partes do Mundo de forma gratuita.

Esta biblioteca poderá, com o tempo, vir a tornar-se o equivalente Português ao Portal Domínio Público do Ministério da Cultura do Brasil.

O Instituto Camões disponibilizava já algumas dezenas de livros electrónicos no seu Centro Virtual. A Biblioteca Digital Camões será, assim, uma reformulação melhorada e aumentada.

Antes do lançamento, deixo algumas expectativas e inquietações.

A Biblioteca Digital Camões será uma verdadeira biblioteca digital?
(É expectável que a BNC venha a ser apenas um repositório de obras digitalizadas a partir de versões em papel, a que se juntarão obras originariamente digitais, como estudos científicos de autores contemporâneos e material encomendado pelo próprio instituto).

Caso venha a disponibilizar digitalizações de livros em domínio público originariamente em papel, as imagens resultantes terão uma resolução satisfatória para que o cibernauta possa comodamente submetê-las a um reconhecimento óptico de caracteres (OCR) e converter as imagens num ficheiro de texto?

(Temo que não, mas estou expectante. O Instituto Camões talvez tema que imagens de alta resolução possam sobrecarregar os seus servidores. Também desconheço a qualidade do material de fotografia de que o Instituto dispõe. O mais natural é que as imagens sejam de baixa resolução, como as da Biblioteca Nacional Digital de Portugal.)

A BNC terá uma política amiga do utilizador? Poderemos descarregar integralmente as obras em domínio público?

Por exemplo: Os Maias de Eça de Queirós será disponibilizado em formato HTML ou RTF, em ficheiros únicos?

(Temo que não, mas estou expectante. Temo que se venha a adoptar um qualquer sistema de viragem de páginas com o recurso a ícones para leitura directa no computador. Seria lamentável. Também temo que, a ser adoptado algum formato-padrão, este seja o PDF, um formato proprietário da Adobe, que tantas dores de cabeça provoca aos verdadeiros amantes de livros electrónicos.)

As obras em domínio público estarão claramente identificadas como tal e conterão uma expressão clara de que o utilizador as pode descarregar e partilhar?

(É possível… Seria elementar. Mas como estes pormenores de honestidade intelectual para com o público são normalmente tão esquecidos…)

Que clássicos da literatura portuguesa estarão disponíveis? Eça, Camilo, Camões, Pessoa, Espanca? Ficarão disponíveis as suas obras completas?

(Temo que não. 1200 ficheiros não seriam suficientes…Pouco mais do que Os Lusíadas, algumas obras de Eça e as principais de outros autores clássicos.)

A Biblioteca Digital Camões apresentará conteúdos originais no campo da literatura em domínio público?

(É possível… Mas também não pode ser posta de parte a eventualidade de a BNC alojar algumas digitalizações já existentes na Biblioteca Nacional Digital, no Google Book Search, ou no Projecto Gutenberg. O que não é mau -- antes pelo contrário! Mas é… pouco original.)

A Biblioteca Digital Camões pensou nos dispositivos de leitura de livros electrónicos? Os livros estarão disponíveis em formato .epub?

(Quanto a isto, lamentavelmente, estou absolutamente seguro que não).

Expectativas: será uma Biblioteca digna de nota no Ler Digital, meritória, com conteúdos originais, disponibilizará gratuitamente conteúdos interessantes, contribuirá para a difusão da Língua Portuguesa, mas deixará muito a desejar, não compreenderá os anseios dos leitores de livros digitais e ficará aquém do Portal Domínio Público Brasileiro.

Está prometida uma crítica para quando o sítio for lançado na internet.

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